

A resistência estratégica, pois, é de recusa de sentido e de recusa da palavra - ou da simulação hiperconformista aos próprios mecanismos do sistema, que é uma forma de recusa e de não aceitação. Mas isto reflecte sobretudo a fase anterior do sistema e, se ainda nos confrontamos com ela, já não é o terreno estratégico: o argumento actual do sistema é de maximalização da palavra, de produção máxima de sentido. A um sistema cujo argumento é de opressão e de repressão, a resistência estratégica é de reivindicação libertadora do sujeito. As práticas libertadoras respondem a unta das vertentes do sistema, ao ultimato constante que nos é dirigido de nos constituirmos em puro objecto, mas não respondem à outra sua exigência, a de nos constituirmos em sujeitos, de nos libertarmos, de nos exprimirmos a todo o custo, de votar, de produzir, de decidir, de falar, de participar, de fazer o jogo - chantagem e ultimato tão grave como o outro, mais grave, sem dúvida, hoje em dia. Isso significa que se ignora o impacte igual, e sem dúvida muito superior, de todas as práticas objecto, de renúncia à posição de sujeito e de sentido - exactamente as práticas de massa - que enterramos sob o termo depreciativo de alienação e de passividade. A resistência-sujeito é hoje em dia unilateralmente valorizada e tida por positiva - do mesmo modo que na esfera política só as práticas de libertação, de emancipação, de expressão, de constituição como sujeito político, as que são tidas por válidas e subversivas. Nenhuma das suas estratégias tem mais valor objectivo que a outra. À exigência de ser sujeito opõe, de maneira igualmente obstinada e eficaz, uma resistência de objecto, isto é, exactamente o oposto: infantilismo, hiperconformismo, dependência total, passividade, idiotia. A exigência de ser objecto opõe todas as práticas da desobediência, da revolta, da emancipação, em suma, toda uma reivindicação de sujeito. A criança resiste em todos os planos, e a uma exigência contraditória responde também com uma estratégia dupla. São simultaneamente intimidados a constituir-se como sujeitos autónomos, responsáveis, livres e conscientes, e a constituir-se como objectos submissos, inertes, obedientes, conformes. Estamos em face deste sistema numa situação dupla e insolúvel «double bind» - exactamente como as crianças perante as exigências do universo adulto. Apenas uma exacerbação lógica e uma resolução catastrófica.Ĭom um correctivo. Não há alternativa, não há resolução lógica. Os media carregam consigo o sentido e oĬontra-sentido, manipulam em todos os sentidos ao mesmo tempo, nada pode controlar este processo, veiculam a simulação interna ao sistema e a simulação destruidora do sistema, segundo uma lógica absolutamente moebiana e circular - e está bem assim.

“Os mass media estão ao lado do poder na manipulação das massas ou estão ao lado das massas na liquidação do sentido, na violência exercida contra o sentido e o fascínio? São os media que induzem as massas ao fascínio, ou são as massas que desviam os tuedia para o espectaeular? Mogadiscio-Stammheim: os media assumem-se como veículo da condenação moral do terrorismo e da exploração do medo com fins políticos, mas simultaneamente, na mais completa ambiguidade, difundem o fascínio bruto do acto terrorista, são eles próprios terroristas, na medida em que caminham para o fascínio (eterno dilema moral, ver Umberto Eco: como não falar do terrorismo, como encontrar um bom uso dos media - ele não existe).
